Thursday, June 29, 2006

- um cappuccino, por favor.

Estava sentado no mesmo café, em uma daquelas cadeiras pequenas e altas, que normalmentte acompanham aquele tipo de mesa igualmente redonda, alta e de pequeno raio. Havia pedido um cappuccino a aproximadamente 10 minutos, e já começava a estranhar a demora. Ele gostava daquele lugar, Pierre, e um dos motivos para isso era justamente a qualidade do atendimento. Era um lugar simples, acessível apenas aos curiosos, pois na rua onde se localizava, passava despercebida pela maioria dos transeuntes. Do lado de fora nenhum atrativo, nenhuma placa. Nem ele mesmo sabia como havia descoberto aquele lugar. Apenas um toldo vermelho sobre a grossa porta de madeira, que ficava ao lado de uma modesta janela também de madeira que abria e fechava pelo lado de fora, e que tinha um pequeno canteiro em seu peitoral, tanto para enfeitar, quanto para evitar que as pessoas se debruçassem. Do lado de dentro, um ambiente aconchegante, aparentemente maior do que verdadeiramente é, pois havia sido muito bem decorado. Suficientemente iluminado, com poucas mesas e um balcão. Apenas duas mesas iguais àquela em que Pierre gostava de ficar, as outras três eram também redondas, porém maiores e mais baixas, como aquelas convencionais. Pierre também gostava de lá por causa da sensação de aconchego que sentia quando estava lá. Ele preferia a mesa que ficava mais afastada das outras. Pierre não gostava muito de bater papo com estranhos, principalmente quando ia ali. Como era um lugar pouco movimentado, gostava de ir lá para tomar um café e pensar na vida. Ia lá durante momentos seus, não gostava de ser perturbado.
Chamou uma das duas garçonetes que trabalhavam lá. Ela era ruiva, tinha os cabelos cacheados e caídos na altura dos ombros, olhos castanhos, sardas e lábios rosados. Era muito bonita, combinava com aquele lugar. Embora não admitisse, passou a frequentar mais o café depois que a moça passou a compor o cenário do local.
Quando ela veio, perguntou-lhe sobre o seu pedido.
- Perdoe, senhor, seu cappuccino já está vindo.
Então ela estalou os dedos e uma xícara muito grande veio voando direto do balcão para as mãos dele. Achou estranho, mas agradeceu. As flores na janela, porém, começaram a gritar "Não beba, não beba! Eles querem te envenenar!", então ele olhou para dentro da xícara e viu um mar revolto, com ondas enormes. Quando olhou para a garçonete, viu que ela tinha se transformado em uma medusa, e todos no local estavam andando como zumbis, indo em direção a ele. A medusa, então, em um salto foi direto no pescoço dele, que tomou um susto tão grande que acordou ofegante, e viu que estava debruçado sobre os cadernos dentro da sala de aula.
Levantou-se e saiu.
Logo ele, que repudiava o ato de debruçar-se...
As pessoas têm manias estranhas às vezes.

no title

Abriu os olhos de súbito. Tornou a fechá-los. Anulando a visão, poderia experimentar melhor os outros sentidos, sobretudo a audição. O farfalhar das folhas balançadas pelo vento soava forte, em contraste com o suave dialogar das aves.
Semicerrou os olhos; começou a brincar de embaçar as vistas, num misto de semicerrar e fechar os olhos. Finalmente os abriu e viu o céu coberto de núvens brancas, e só alguns pedaços azuis. Estava na posição deitada de costas, braço direito sobre a testa, uma perna cruzada sobre a outra. De repente ocorreu-lhe algo, um súbito. Passou a analisar cada sensação que os sentidos permitiam-lhe sentir. Observou que as nuvens se moviam depressa, e ocupavam lugares antes vazios sem desobstruir os antes já cobertos; ouvia passos perdidos vez ou outra, conversas ralas e distantes. Sentiu o vento batendo em seu joelho esquerdo.
Levantou-se. Estava com os cabelos recém enxutos e levemente embaraçados, as roupas ainda com marcas de que foram vestidas sem um adequado trato do corpo com uma toalha, a vista lilgeiramente embaçada, resultado da brincadeira com as pálpebras. Tateou a pele e sentiu-a macia, talvez pelo efeito do ralo banho-de-sol que havia tomado a pouco. Calçou suas sandálias novas e foi andando até onde estavam acomodados seus pertences. No percurso pôde observar a quem pertenciam as vozes e os passos que escutara minutos antes, assim como a mudança de cor das núvens de branco para cinza. Provavelmente vai chover, mas logo vai passar, pensou. Reparou que o Sol estava baixo, mas ainda não havia se posto. Nem fazia idéia de que horas deveriam ser, afinal, ali não se carregava relógio. Chegou, pegou o necessário e partiu refazendo todo o percurso. Olhou para o céu e viu um arco-íris ligeiramente apagado, rodeado pelas nuvens cinza, o que reforçou seu pensamento de chuva. Voltou ao lugar de onde havia saído, deitou-se (agora de bruços). Reparou que as núvens cinzas agora haviam encoberto todo o céu. Nem teve tempo de pensar em outra coisa quando as primeiras gotas atingiram sua batata da perna. Relutou em sair dali por uns segundos, mas desistiu quando começou a ficar frio.
A chuva (que, como previsto, logo passou), encharcando aquele lugar - de onde nasceu o súbito de inspiração - fez com que fosse sentar-se em ma cadeira. Como não tinha ido àquele lugar para sentar-se em cadeiras, esperaria, então, a chuva passar e logo voltaria a sentar (ou deitar) na velha tábua de madeira.

hello, stranger.

Mais uma vez (por impulso) resolvi criar um blog... navegando pela internet sempre vejo aqueles blogs interessantes e tenho vontade de recomeçar um, mas nunca tenho saco. Coisas a dizer eu tenho (muitas! não agora, mas tenho), mas não tenho mãos pra isso. Algumas semanas atrás criei um flog que já abandonei...



EDITADO: favores para amigos: